Na última semana, o g1 fez uma enquete para saber qual meio de transporte os internautas que não têm veículo próprio têm utilizado neste cenário de alta no preço do produto. A reportagem conversou usuários e trabalhadores e ainda ouviu as empresas para saber como elas têm lidado com os reflexos dessa crise econômica. Preço da gasolina em posto de combustível no Bairro Poço Rico em Juiz de Fora
Braz Adalberto/Arquivo Pessoal
A alta dos preços dos combustíveis em Juiz de Fora afetou não só quem usa o veículo próprio no dia a dia ou precisa recorrer a outros meios de transporte. Afetou também aqueles que trabalham com táxi ou como motoristas de aplicativo.
Na última semana, o g1 fez uma enquete para saber qual meio de transporte os internautas que não têm veículo próprio têm utilizado. O resultado mostrou que no meio disso tudo, a maioria usa o transporte coletivo, com 41,9% dos votos.
Em segundo lugar ficou o transporte por aplicativo, com 31,43%, e em terceiro o táxi, que contabilizou 3,81% dos votos.
Para saber como trabalhadores e usuários têm se virado para driblar a situação, a reportagem conversou com ambos os lados e ainda ouviu as empresas para saber como elas têm se portado com o reflexo no bolso de todos.
A Prefeitura e o Sindicato dos Taxistas também foram procurados. Confira abaixo a reportagem.
Veja aumentos anteriores já registrados no município:
Preço da gasolina chega a R$ 6,569 em postos de combustíveis de Juiz de Fora
Preço da gasolina volta a subir e chega a R$ 6,67 em postos da Zona Sul de Juiz de Fora, mostra levantamento do Procon
Combustível mais caro impacta trabalhadores
Ponto de Táxi no Parque Halfeld em Juiz de Fora
Victória Jenz/g1
Juliano Soares, de 24 anos, é motorista pela Uber há 2 anos e meio. Ao g1, ele relatou que o aumento no preço da gasolina afetou a renda particular e, para tentar ganhar o mesmo valor de antes do aumento, está precisando trabalhar mais horas por dia.
"Está impactando muito os trabalhadores, que estão precisando trabalhar mais horas por dia. Os custos estão altos. O que ganhamos nas corridas, além do combustível, temos que tirar o custo de manutenção do veículo, como óleo, pneus, entre outros. Fora esses buracos na cidade toda que também nos afeta muito os gastos. O combustível está um absurdo e se continuar aumentando desse jeito, acho que a tendência é mais motoristas pararem de trabalhar com isso", afirmou o jovem.
O motorista contou ainda que em média, realiza de 25 a 30 corridas por dia e que com o aumento no valor do combustível, ou a não aceitar algumas corridas devido à distância.
"Algumas corridas acabam sendo longe e com o combustível caro acaba não valendo a pena atender aquela corrida. Fora que o aplicativo vem apresentando muitas falhas quanto a isso de distância. Mostra uma distância e quando aceitamos aparece uma distância de 3 ou 4 quilômetros além", explicou Juliano.
A situação também ocorre com Wellinson da Silva, motorista cadastrado na plataforma 99 há cerca de 7 meses. De acordo com ele, são realizadas, no mínimo, 20 corridas por dia.
"Estou me desdobrando para trabalhar, estou trabalhando mais de 12 horas por dia e o que nos ajuda um pouco são os horários dinâmicos, em que as tarifas sobem um pouco, mas ganhamos quase nada também".
Sobre os cancelamentos das corridas, Wellinson explicou que a situação causa desgaste, tanto para o motorista, como para o ageiro que precisa da viagem.
"Tem corridas que andamos quase 5 quilômetros para ganhar R$ 5. É um valor menor do que o litro da gasolina atualmente, então dependendo da distância não vale a pena e acabamos cancelando. O ageiro também sofre com isso", completou.
O aumento impactou também os motoristas de táxi. Conforme o taxista Douglas Alexander de Azevedo, que está há 7 anos no segmento, a situação é geral e afetou muito a rotina de trabalho de todos.
"O aumento do combustível nos postos de gasolina aumentou muito em menos de 1 ano e isso prejudicou muitos trabalhadores, como motoboy, motorista de aplicativos, e também a nossa classe do táxi. Creio que atrapalhou a renda não só minha, mas como a de todos que precisam e dependem do combustível para levar comida na mesa de nossas casas", afirmou o taxista.
Douglas ainda disse que a tarifa do táxi não aumentou proporcionalmente aos gastos, o que fez com que a renda diminuísse ainda mais.
"Acredito que ainda terá um novo reajuste do preço da gasolina até o fim do ano, mais um né. Vamos ver como vai ser esse processo de valor. O único jeito é aguardar, estou tentando levar como posso afinal somos brasileiros né e Deus sabe das coisas", completou.
No que se refere às corridas, Douglas informou que realiza cerca de 35 corridas por dia, mas que no fim do mês a demanda cai muito.
O presidente do Sindicato dos Taxistas e Transportadores Autônomos de ageiros de Juiz de Fora e Região (Sinditáxi-JF), José Moreira de Paula, afirmou que os contantes reajustes vem impactando diretamente na renda dos taxistas de Juiz de Fora.
"O último reajuste de tarifa que tivemos foi em 2017, na época a gasolina custava em média R$ 3,83 e o álcool R$ 3,01 o litro. E com os últimos reajustes desse ano, a situação dos mais de mil taxistas se agravou ainda mais. Outro fator que vem impactando a renda dos taxistas é o transporte individual remunerado de ageiros em carros particulares (APP"s). Que está operando sem nenhuma regulamentação aqui no município", ressaltou o presidente.
A Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU) informou que há 630 permissionários de táxis na cidade atualmente cadastrados.
Aumento interferiu rotina dos ageiros
Com alta do combustível, Uber e 99 reajustam ganho da corrida para motoristas
Tácita Muniz/G1
Jéssica Santos, de 27 anos, é vendedora e usa o transporte coletivo diariamente para ir ao trabalho.
Segundo a jovem, andar de ônibus, apesar de cansativo e demorado, compensa mais pelo valor. Além disso, este é o meio de transporte no qual a empresa em que ela trabalha oferece.
Ao g1, Jéssica revelou que iria comprar um carro este ano, mas decidiu esperar por conta do preço da gasolina.
"Estava prestes a ter o meu próprio veículo, porém, acaba não compensando por causa do valor da gasolina. E eu acho que a tendência é que aumente ainda mais. Talvez até a agem aumente também. Está difícil", afirmou.
Já a estudante Isabella Magalhães Santana, de 24 anos, utiliza a plataforma 99 para ir onde precisa. Com o aumento no preço dos combustíveis, o custo das corridas também aumentou, de acordo com a estudante.
Em razão disso, ela teve que diminuir o número de corridas por mês para não ultraar o orçamento.
"Utilizo o aplicativo 99 pelo custo benefício, porque ainda é o aplicativo mais barato, além da rapidez. O aumento do preço da gasolina atrapalhou um pouco a minha rotina e eu tive que ajustar da maneira que podia. De 25 corridas que fazia por mês antes do aumento, hoje em dia faço 15 no máximo", explicou a estudante.
Laura Augusta de Sousa, de 42 anos, também percebeu um aumento no preço das corridas. À reportagem, ela contou que deixou de usar o transporte coletivo devido à pandemia de Covid-19.
"Antes da pandemia, eu utilizava o ônibus para ir trabalhar. Saia do Centro e pegava o coletivo sentido a Zona Norte e mesmo assim já era bem cheio. Com a pandemia eu fiquei com medo e comecei a ir de Uber e até hoje sigo assim, ainda não me sinto segura. Tenho muito medo de pegar a doença", contou.
Segundo Laura, a demora para encontrar um motorista disponível, além do valor e os cancelamentos aumentaram nos últimos meses.
"Acredito que o aumento do preço dos combustíveis esteja diretamente ligado ao que eu e diversos outros ageiros estamos ando. Está muito difícil solicitar corrida aqui, já tive que adiar compromissos porque não iria conseguir chegar a tempo ou já cheguei atrasada. Mas entendo o lado dos motoristas também. Eles rodam muito e ganham pouco. A verdade é que está difícil para todo mundo", completou.
Empresas de aplicativo dizem dar apoio aos motoristas
Preço em posto de combustível em Juiz de Fora
Victória Jenz/g1
Em nota, a Uber informou que com o aumento constante dos combustíveis intensificou os esforços para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem os gastos, através de parcerias que oferecem desconto em combustíveis, por exemplo, além de ter feito uma revisão e reajuste nos ganhos dos motoristas parceiros em diversas cidades.
Em conjunto ao programa de vantagens Uber Pro, a empresa também lançou, em outubro deste ano, um pacote de iniciativas para impulsionar os ganhos dos motoristas parceiros no último trimestre do ano, como a campanha Grana Extra, que proporciona ganhos adicionais de R$ 150 a R$ 500 por semana, e a promoção Indique-e-Ganhe, que oferece até R$ 1.500 pela indicação de novos parceiros.
Com alta do combustível, Uber e 99 reajustam ganho da corrida para motoristas
A empresa 99 também informou que realizou reajuste entre 10% e 25% nos ganhos dos motoristas em diversas cidades por conta da crise econômica que vem impactando o valor dos combustíveis e a atividade dos motoristas parceiros.
Conforme a empresa, o objetivo é continuar oferecendo uma fonte de ganho aos motoristas parceiros e um meio de transporte financeiramente viável, seguro e eficiente à população.
Além disso, a 99 lançou um pacote de ações chamado Mais Ganhos que prevê, entre outras iniciativas, o ree integral do valor da corrida aos parceiros em localidades e horários específicos, que já representou ganhos extras de mais de R$ 10 milhões para os motoristas. Outra medida implementada pela 99 aos motoristas é o desconto de 10% em todos os postos da rede Shell, o que já gerou uma economia de R$ 5 milhões aos parceiros.
"A 99 esclarece, ainda, que parte do valor arrecadado com as tarifas é revertido em investimentos e em melhorias na experiência dos usuários, seja em segurança, novos produtos ou campanhas de incentivo à demanda. É importante observar que a taxa média nacional aplicada pela empresa é de 20%. O objetivo é garantir que os motoristas parceiros sempre tenham ganho no serviço prestado ao ageiro. Neste sentido há casos em que é empregada a taxa negativa, ou seja, o valor reado ao motorista é maior que o pago pelo ageiro e esta diferença é custeada pela empresa para democratizar o o das pessoas", citou a nota.
O g1 perguntou para as empresas o número de motoristas cadastrados em ambas as plataformas, mas foi informado que o número regional não é contabilizado, portanto, não é possível saber quantos trabalhadores há em Juiz de Fora.
Por que os preços dos combustíveis não param de subir?
Os brasileiros estão pagando cada vez nos combustíveis. No fim de outubro, a Petrobras anunciou um novo reajuste nos preços da gasolina e diesel para as distribuidoras. O aumento, aplicado em 26 de outubro, foi de 7,04% para a gasolina e de 9,15% para o diesel.
Nos postos do país, a escalada nos preços é evidente. Levantamento mais recente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostrou que o preço médio da gasolina nos postos do país subiu 0,64%, chegando a R$ 6,753 o litro.
O principal 'motor' das altas da gasolina e do diesel vem sendo o real desvalorizado. Até sexta-feira, o valor comercial do dólar equivalia a R$ 5,458. Além disso, houve aumento da demanda, restrição de oferta, e elevação dos preços de biocombustíveis
LEIA TAMBÉM:
Gasolina mais cara: 4 motivos para disparada de preço dos combustíveis
Até quando o preço do combustível vai subir?
Composição dos preços
Economia G1
VÍDEOS: veja tudo sobre a Zona da Mata e Campos das Vertentes