Leônidas Oliveira 5i6w6y Secretário de Estado - Dia a Dia Notícias /blog/leonidasoliveira Blog Leônidas Oliveira - Secretário de Estado no site Dia a Dia Notícias /blog/leonidasoliveira /hf-conteudo/s/layout/logo_8b36a5e18308224620aecba3ef19b87e.png Leônidas Oliveira 5i6w6y Secretário de Estado - Dia a Dia Notícias pt-BR HOTFIX PRESS hourly 1 Copyright 2025 diaadianoticidiaadianoticias-br.informativomineiro.com.br http://press.hotfix.com.br/ Veredas globais 4t33q Camões, Cervantes e Rosa na política do espírito /blog/leonidasoliveira/6-veredas-globais-camoes-cervantes-e-rosa-na-politica-do-espirito.html <![CDATA[Leônidas Oliveira - Secretário de Estado ]]> /blog/leonidasoliveira/6-veredas-globais-camoes-cervantes-e-rosa-na-politica-do-espirito.html Tue, 20 May 2025 10:40:49 -03 <![CDATA[<p dir="ltr" style="text-align: justify; ">Dizer Guimarães Rosa no Brasil de 2025 &eacute; acender um f&oacute;sforo dentro de um datacenter: o clarão dura pouco, mas lembra que, na era dos algoritmos, a palavra ainda decide quem somos. Ao recolocar Rosa no centro da Bienal Mineira do Livro, Minas reabre diálogo com uma linhagem que atravessa s&eacute;culos &ndash; Camões e Cervantes &ndash; para perguntar que imaginação pode refundar o pacto democrático quando o debate público se esfarela em likes.</p><p dir="ltr" style="text-align: justify;">Camões viu o Imp&eacute;rio nascer e ranger. "Os Lusíadas" transformam caravelas em metáfora da condição humana: navegar &eacute; preciso porque o mundo &eacute; inconstante. Cervantes escreveu em ruínas semelhantes: "Dom Quixote" descobre que os cavalos de batalha viraram moinhos que giram com o vento do capital. Rosa, três s&eacute;culos depois, faz o sertão ressoar como zona de contato entre mito e motoniveladora. Três tempos, a mesma fissura: quando o real se torna inabitável, o escritor ergue uma língua que o reinscreve no territ&oacute;rio sensível, devolvendo corpo ao que parecia p&oacute; de arquivo digital.</p><p dir="ltr" style="text-align: justify;">Essa permanência nasce da imanência. Camões planta o &eacute;pico no sal do mar português; Cervantes finca o romance na poeira de La Mancha; Rosa garimpa l&eacute;xico novo no cascalho das veredas. Não há exotismo: o local &eacute; laborat&oacute;rio de universalidade. A crítica de "world literature", de David Damrosch a Pascale Casanova, reconhece na travessia do texto entre línguas a prova da sua potência. Por isso Rosa hoje cabe nas mesmas estantes que Faulkner ou Rulfo: quem decifra "nonada" encontra a chave do humano, esteja em estepes asiáticas, arranha-c&eacute;us de vidro em Xangai ou vielas de Medellín.</p><p dir="ltr" style="text-align: justify;">Mas por que convocá-los agora? Porque a política contemporânea reproduz as polaridades que eles dramatizaram. Camões põe lado a lado conquista e naufrágio; Cervantes, utopia e desengano; Rosa, f&eacute; e diabo. Essas tensões recusam soluções binárias &ndash; a coragem está em habitar o entre. Num Brasil rasgado por bolhas de indignação instantânea, reler esses autores &eacute; um exercício de paciência democrática: ensinam que a verdade se adensa nos interstícios e que toda travessia &eacute; plural.</p><p dir="ltr" style="text-align: justify;">A metáfora, nesse processo, &eacute; ferramenta de sobrevivência. Ant&oacute;nio Lobo Antunes lembra que "a literatura &eacute; mentira que diz a verdade"; Rosa advertia: "viver &eacute; muito perigoso". A mentira literária, ao contrário da "fake news", não oculta a ambiguidade: expõe-na para que o leitor escolha melhor. Se a inteligência artificial oferece atalhos de decisão, Camões, Cervantes e Rosa oferecem demora &ndash; e demora &eacute; pr&eacute;-requisito de responsabilidade. Automatizar o juízo sem burilar o sentido repete o erro de "Dom Quixote": trocar imaginação crítica por um template de honra resulta em c&ocirc;mica desgraça &ndash; lição preciosa para quem terceiriza dilemas morais a algoritmos que apenas replicam vieses.</p><p dir="ltr" style="text-align: justify;">Há, ainda, um programa de Estado implícito nessa leitura. Antonio Candido via "Grande Sertão" como "infraestrutura moral" da vida brasileira. Investir em literatura &eacute; construir densidade cidadã, não ornamento. Ao batizar espaços da Bienal de Arena Rosiana ou Espaço Diadorim, Minas e suas instituições culturais, sinaliza que política cultural não &eacute; vitrine, mas profundidade pública. O sertão, diz Rosa, "&eacute; dentro da gente"; o Estado, portanto, precisa cuidar desse interior invisível com a mesma dedicação que consagra ao concreto das estradas que transportam corpos, bens e esperança.</p><p dir="ltr" style="text-align: justify;">No plano do eu, os três autores desmontam a fantasia da identidade monolítica. Vasco da Gama s&oacute; se torna her&oacute;i ao narrar-se; Riobaldo s&oacute; se entende conversando com o ouvinte an&ocirc;nimo; Quixote existe no espelho de Sancho. &Eacute; a lição maior para as redes: nossa subjetividade &eacute; relacional. Se o feed &eacute; terreno de disputa, precisamos depurar a escuta. Camões obriga a respirar versos longos; Cervantes, a rir de n&oacute;s mesmos; Rosa, a reinventar o idioma. Cada gesto suspende o reflexo imediato e abre espaço para a elasticidade do pensamento, condição de dialogar com diferenças sem reduzi-las a caricatura.</p><p dir="ltr" style="text-align: justify;">Camões advertia que "o fraco rei faz fraca a forte gente". Cervantes definia a liberdade como "o bem mais caro que os c&eacute;us deram aos homens". Rosa sussurra que "o real se dispõe no meio da travessia". Tomadas em conjunto, as frases compõem um manual de navegação para democracias inquietas: &eacute; preciso liderança &eacute;tica, liberdade crítica e coragem de viver na incerteza. Entre mar&eacute;s, moinhos e veredas, o horizonte permanece comum: atravessar o perigo com imaginação e linguagem.</p><p dir="ltr" style="text-align: justify; ">Minas, que exporta min&eacute;rio de ferro, exporta tamb&eacute;m min&eacute;rio verbal. Ao celebrar Rosa em 2025, reafirma-se como territ&oacute;rio de travessia entre o local e o global. E oferece ao Brasil, cansado de slogans fáceis, a lição mais dura: não há chegada definitiva; há apenas o meio do caminho &ndash; esse lugar onde a palavra continua riscando faíscas contra a escuridão.</p><p></p><div style="text-align: center;"><b>Le&ocirc;nidas Oliveira &eacute; secretário de Estado de Cultura e Turismo</b></div><div style="text-align: center;"><b>de Minas Gerais e doutor em Teoria da Arte e Arquitetura</b></div><p></p>]]> <![CDATA[&lt;p dir=&quot;ltr&quot; style=&quot;text-align: justify; &quot;&gt;Dizer Guimar&atilde;es Rosa no Brasil de 2025 &amp;eacute; acender um f&amp;oacute;sforo dentro de um datacenter: o clar&atilde;o dura pouco, mas lembra que, na era dos algoritmos, a palavra ainda decide quem somos. Ao recolocar Rosa no centro da Bienal Mineira do Livro, Minas reabre di&aacute;logo com uma linhagem que atravessa s&amp;eacute;culos &amp;ndash;...]]>